Cap O5

E lá estava eu, tentando ser normal depois de três meses da morte de Miguel. Aos poucos ia voltando a minha rotina, mesmo com mudanças tão bruscas. Não voltei a desfilar, a última vez que resolvi aparecer na Agência - com muito custo, Fê conseguiu me levar lá novamente - saí aos prantos, com a imagem de todo o acontecido em mente.
Todos os dias Dora vem me visitar com um sorriso no rosto, sempre feliz em me fazer companhia. Faço questão de comprar doces toda semana, só pra que ela se sinta mais à vontade. E depois de tanto tempo sem alguém que não seja ele, é engraçado pensar em como uma menina tão pequena possa me fazer tão feliz.
E toca o telefone, me trazendo de volta à terra: - Alô?
- Lara?
- Você tá ligando pra casa da própria, só pode ser a...?
- A senhora doçura sempre. - Ri com esse comentário.
- Fale, Diego. Ligou só pra ouvir minha voz?
- Pensei que iria gostar de saber que consegui um emprego legal pra você.
Quando Diego me deu a notícia, não me contive e dei um grito maior que deveria: - Aaaahhhh!!! Você tá brincando!
- Nossa, Lara! Quem olha assim até acredita que não tem condições...
Eu sabia que não precisava tanto assim de um emprego, conseguiria me manter com o que havia no banco. Eu era, querendo ou não, uma modelo renomada e nunca me faltou nada. Mas agora era diferente...Eu não precisava de dinheiro em si, mas sim de uma distração. Mesmo tendo conseguido mudar grande parte de tudo que me fazia lembrar de Miguel em minha casa, ainda era difícil ter que viver 24h no mesmo lugar. Afinal, foi muito mais que uma simples foto ou um sorriso dado. Nós vivemos ali, juntos. Convivendo um com outro, conhecendo cada dia mais o que ambos gostavam de fazer, juntos ou sós. Era uma troca de cheiro, sorriso, lágrima. Éramos nós, carne que toca, sente. Morro de saudade de nossos beijos dados ao fim de cada briga, de nossas tardes juntos, das...
- Tia Lara, você tá chorando? - Quando voltei ao mundo no susto, estava Dora à minha frente e eu, enterrada em minha cama com lágrimas saltando de meus olhos. Limpei rapidamente.
- Oi meu anjo! Adiantaria dizer que caiu um cisco em meu olho...? - Sorri sincero pra ela.
- Você sabe que não né, tia? Eu tenho 5 anos, quase 6, sou esperta. - Ela retribuiu o sorriso e pulou em minha cama me fazendo rir com sua maturidade avançada.
- Eu havia me esquecido que você já é uma menina crescida. - Ri.
- Mas me diz, tia Lara, o que houve? Não foi o tio Diego não, né?
- Não, não, Dorinha. Ao contrário, ele me trouxe uma notícia muito boa!
- Sério? Qual? - Ela perguntava enquanto limpava minhas lágrimas no canto do olho.
- Conseguiu um emprego pra mim. Acredita?
- Então não vai ter mais tempo pra mim, tia? - E fez seu bico, que faz toda vez que está zangada.
- Claro que vou, Dora! Mas eu também preciso comer né moça? - Ri enquanto a agarrava e fazia cócegas nela. Era infalível, ela caía na gargalhada sem parar!
Depois que deixei Dora em casa, fui me arrumar porque tinha um almoço com Diego pra que pudesse me explicar melhor sobre meu novo – totalmente novo – emprego.

- Sim, eu entendi Diego. Mas dá pra me dizer onde tenho cara de administradora de qualquer coisa?
- Lara, entenda, só fique feliz e o resto nós daremos um jeito.
- Eu estou feliz, mas preciso de algo que vá durar pelo menos mais de um dia, né? - Rimos juntos.
Parando pra pensar, acho que Diego foi um anjo que apareceu em minha vida. Me ajudou desde o dia em que me conheceu e nunca pediu nada em troca. Sei que ele é misterioso em certos assuntos, mas... Quem não é?
- Tô chegando.
- Porta aberta, madame. Só entrar.
- Ok, moço. - Subi seu prédio, e abri a porta como o próprio me havia dito. - Hey, Diego!
Ouvi um grito vindo da cozinha "Tô aqui!" e fui em sua direção. - E aí, administradora, como está?
Dei um tapa de leve em suas costas - Pois é, você vai ter que me ensinar como ser uma!
- Pode deixar, senhorita. Até porque tirei férias do meu trabalho hoje mesmo!
- Sério?
- Seríssimo.
- Que legal! Dora perguntou por você hoje... podia ir visitá-la né?
- Ah, aquela pequenina é uma figura. – Ele ia falando e cortando cebolas, fritava bifes e olhava o arroz de minuto em minuto.
- Nossa, Diego! Você gosta mesmo de cozinhar né? – Eu roubava um pedaço de carne enquanto falava.
- Diferente de você, madame, eu sempre tive que me virar viu?
- Ah claro! Tinha me esquecido que eu não faço nada, né?
- É... basicamente isso. – Rimos.
Depois de passar a tarde com meu mais novo chefe. Ah, eu não disse né? Pois é, o emprego que Diego conseguiu de administradora é na empresa em que trabalha, logo, trabalharei pra ele. Mas isso não deixa de ser menos trabalho, afinal, eu continuo sem entender nada de administração.

* Cap O6 aqui.