Cap O2

- Ei... moça? Moça? – Abri os olhos, e os tampei novamente com as mãos. Já era dia! Abri novamente os olhos e me afastei, com medo daquela pessoa.
- Quem é você? O que quer?
- Calma...É que te encontrei aqui, dormindo na calçada...Não tem medo? É perigoso!
- Me deixa em paz, rapaz! Não há nada melhor pra fazer do que tomar conta da minha vida? – Falava, sem parar pra respirar. Estava furiosa! – Nem dormir mais em paz eu posso? Já sei.. você é de alguma TV né? Quer mostrar minha desgraça pro mundo né seu safado? – Comecei a socá-lo no braço. Ele não compreendia nada.
- Ei, dona! Estou aqui tentando ajudá-la. Não me venha com grosserias! Se prefere ficar aí, tudo bem.
- Dona? Moça? Meu nome é Lara. La-ra, rapaz!
- Porque deveria saber seu nome, LARA? – Ele repetiu meu nome, ironicamente.
- Porque eu sou Lara Gonne. Deve saber quem sou!!
- Devo? Por quê? Não faço idéia de quem seja você.
- Não há TV na sua casa não?
- Lara, esse é seu nome né? – Ele sorriu ironicamente – Pois é. Eu trabalho, não tenho tempo pra besteiras! O máximo que eu vejo é jornal da noite ou da madrugada. E olhe lá!
- Desenformado ao extremo! – Revirei os olhos e falei um ‘aff’ em minha mente.
- Pois é... Mas olha, Lara – Ele colocava ênfase em meu nome. Sarcástico!! –, só queria ajudar. Se prefere ficar aí, que nem louca, fique! – E se virou. Olhei ao meu redor, ao lugar que eu estava...
- Ei! – Ele virou pra mim novamente – Me ajude aqui!
- Ué! A senhorita-acordei-com-pé-esquerdo(Literalmente) resolveu receber ajuda? – Que garoto irônico! Como há?! Não liguei. Afinal, a necessitada de ajuda ali era eu, não ele.
- Me levante logo, menino! – Ele me ajudou a levantar, cambaleei duas ou três vezes, me agarrei nele.
- O que há com a tão formosa e conhecida Lara? – Irônico! Setenta vezes irônico! – Bebeu todas ontem à noite é?
- Não!! – Falei e pausei. Ele tocou na minha ferida ainda aberta e sangrando lágrimas de tristeza e de perda. Ele percebeu...
- Perdão! O que houve então, Lara? – Ênfase novamente!
- Primeiro, pare de dar tanta ênfase ao meu nome? Obrigada! E segundo, não há necessidade em você saber o que houve.
- Desculpe... Lara... – Ele lutava contra ele mesmo para falar meu nome normalmente. – Onde você mora? Posso te levar lá!
- Não quero ir pra casa! Qualquer lugar, menos lá. – Haviam muitas lembranças do Miguel naquela casa...Preferia ir pra onde for, ao ir pra lá. – Ele se assustou um pouco, mas depois levou na boa.
- Tudo bem! Então... Pra onde deseja ir? Há outro lugar que eu possa levar você?
- Não! Deixe-me em qualquer lugar. – Parei – Melhor, me deixe aqui mesmo. Estou bem! Depois volto pra casa – Mentira. Não iria voltar tão cedo lá.
- Não! Está louca...? Mas do que já é? – Ele abriu a porta do carro e me empurrou pra dentro.
- Ai!
- Perdão...
- Me deixe aqui mesmo... – Parei. Não sabia nem o nome do ser – Qual seu nome?
- Diego, prazer. Olha, Lara... Eu vou trabalhar daqui a pouquinho. Você vai pra minha casa, toma uma banho, come, descansa... E depois você pode ir pra onde quiser, ok?
- Não há precisão disso... – Diego era irônico, mas gentil!
- Precisa sim! – Ele entrou no carro, trancou as portas e fomos. Chegamos a um condomínio pequeno mais muito bonito. Jeitoso! – Meu apartamento é pequeno, pois só mora eu, mas é bem arrumadinho viu? – Ele sorriu. Eu lembrava de um sorriso como aquele...Enfim, deveria ser coisa da minha cabeça. Estava atordoada ainda.
- UÉ! E sua namorada? – Ele deu um riso alto, me assustei. – Não tenho namorada, Lara! Só moro eu no meu pequeno apartamento.
Subimos as escadas e demos de cara umas garotas que piscavam freneticamente pro Diego. Me perguntei se elas tinham irritação nos olhos ou se era puro fogo mesmo. Fiquei quieta.
- Vamos, Lara! É logo aqui. – Viramos um corredor e logo vi um apartamento bem bonito, todo azul e branco por fora, mas parecia mais uma casa de mulher. Dei um riso baixo. Ele percebeu – O que há? Achou muito gay também? – Ele riu alto. – Já me perguntaram se eu morava na casa da Ajuice no país das maravilhas, acredita?
Pus a mão na boca e ri alto. – Não seria Alice? – Ele colocava a chave na porta e girava pro lado esquerdo fazendo ela se abrir.
- É. Deve ser isso mesmo! – Ele sorria, com um brilho diferente no olho. Foquei no olho dele e depois revirei. – Então, Lara, tem toalhas ali no lado direito do armário e há roupas minhas no outro armário, em meu quarto. Pegue e use. Tem comida na geladeira, é só descongelar. Fique à vontade! Tomarei um banho primeiro pra poder correr pro trabalho, tá?
- Tá. Claro! Pode ir, vou ficar esperando aqui na sala. – Sorri. Vi uma enorme janela, me debrucei nela e fiquei olhando o céu. E então vieram as recordações em minha cabeça. Balancei-a tentando de alguma forma para de pensar nele. Não queria mais dizer seu nome, nem em mente, evitaria sofrer mais.
Diego logo saiu do banho, com uma toalha enrolada na cintura e o cabelo molhando balançando de um lado pro outro, igual a um gato quando quer se secar. Ele sorria pra mim, tentei retribuir da mesma forma, mas acho que não consegui. – Pode ir tomar banho, Lara! Eu pego uma toalha pra você, tudo bem?
- Ah.. Obrigada! – Estava indo em direção ao banheiro, quando encostei-me à parede e fiz Diego parar e olhar pra mim – É...obrigada, Diego. Por tudo que está fazendo... Não sei como agradecer... – Não sabia mesmo. Nunca ninguém fez algo por mim de modo que eu tivesse que agradecer tanto da forma com que ele havia feito. Ele só sorriu e disse que não precisava me preocupar com isso. Sorri de volta.
Entrei no banheiro e fui tirando com calma cada peça de roupa. E cada peça que eu tirava, eu me sentia mais só. Um filme foi passando em minha mente e parei pra tentar ouvir a música de fundo. Era Only Hope - Mandy Moore uma música que talvez dissesse muito sobre o que eu passava no momento: "I'm awake in the infinite hope, But you sing to me over and over and over again" [Estou acordada num frio infinito, mas você canta pra mim de novo e de novo] Sacudi a cabeça e fingi que nada daquilo havia passado em minha mente. Difícil, tentei ao máximo fingir pra mim mesma. Entrei no chuveiro, e caía sobre mim uma água quente que me fazia esquecer um pouco dos problemas. Era como se lavasse minha alma. Então ouvi um barulho de quem batia na porta. Era Diego. – Lara? Aqui está sua toalha. Estou indo trabalhar, está bem? – Ele falava, todo cauteloso.
- Tudo bem sim! Prometo deixar sua casa do mesmo jeito que encontrei.
Ele riu e disse – Não prometa algo que não sabe se poderá cumprir... Brincadeirinha! Agora tenho que ir mesmo. Beijo. Se cuida!
- Ok. Beijo. – Ele fechou a porta e eu voltei pro meu mundo lava-alma.
Depois do banho, me enrolei na toalha e fui para seu quarto. Fechei a porta do quarto de Diego e ainda com a toalha enrolada, cacei algo para vestir. Achei uma blusa meia velha e grande, pus. Ainda com cabelo molhado, pus a toalha no cabelo e tentei secar. Fui para cozinha, havia comida na geladeira, como ele disse. Fiquei com preguiça, então procurei algo mais prático. Achei uns pacotes de sopa e fiz. Depois de comer, deitei no sofá e fiquei vendo um filme que estava em cima do DVD. Tentei prestar ao máximo atenção somente no filme. Acho que consegui, pois não vi a hora passar.
- Lara? – Abri um olho somente e depois o fechei novamente. Diego me viu deitada no sofá, dormindo, e sorriu. Me pegou no colo e me levou para seu quarto. Me remexi algumas vezes em sua cama, mas peguei no sono novamente. Mas não parecia que estava dormindo. Eu o ouvia falar baixo.
Não conseguia entender muito bem o que ele falava, então comecei a prestar atenção em sua boca e tentei lê-la. Consegui entender algumas coisas como "Tudo bem" e "Falarei com ela quando acordar". Só poderia ser de mim. Mas o que seria? Fiquei me perguntando isso alguns minutos e viajei. Achei muito estranho. O que esse cara falaria de mim? Até que Diego me viu acordada e sorriu – Olá bela adormecida!


[...] Como Lara vai reagir à isso?
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