Cap O1


- Vamos amor? – Miguel sorriu pra mim e pegou na minha mão. Acenei pro motorista e ele abriu a porta. Sai já desfilando e fazendo poses aos flashes. Sempre com um sorriso no rosto. – Vai amor. Estou logo atrás de você! – Miguel falou baixinho no meu ouvido e eu entrei quase correndo no Estúdio.
- Nossa, Fê! Hoje tá bem movimentado lá fora, ein? Caramba! Quase não conseguimos entrar, né Miguel? – Falei, voltando a respirar calmamente. Miguel fez que sim com a cabeça.
- Pois é né, Lara! Eu disse pra você não chegar atrasada que você iria acabar pegando essa turbulência lá fora. Mas você não me ouve né Senhorita? – Ela falou e riu, se dirigindo à mim.
- Você sabe que a Lara sem seus atrasos, não é A Lara! – Miguel respondeu rindo enquanto eu fazia uma careta pra ele e em seguida me abraçou – Brincadeirinha amor!
- Depois conversamos Sr. Miguel! – Disse fazendo cara de quem estava brava e depois dei língua. – Mas e aí, Fernanda, quando vou entrar?
- Logo, Lara. Logo... – Ela olhou rapidamente pra mim e depois foi em direção ao camarote. Com certeza, ver se alguém precisava de algo.
- Ai amor... é incrível como a cada vez que tenho que entrar na passarela ou no palco, fico morrendo de medo antes. – Quando iria pôr os dedos na boca pra roer as unhas, como sempre faço quando estou nervosa, ele pegou minha mão e sorriu delicadamente pra mim.
- Calma, meu anjo! Você sabe que isso é normal, mas não ponha esses dedos na boca, contenha-se! – Me agarrei nele e ele falou baixinho em meu ouvido, me fazendo sentir arrepios – Estou aqui. Vai dar tudo certo!
Em seguida aparece Fernanda falando alto e me fazendo pular de susto por dentro – Vamos, Lara! Vamos! Você já vai entrar!
- Ok. Estou indo! Espera só cinco minutos. – Estava tremendo. Não sei o que estava havendo comigo. – Miguel, amor, te amo tá? – Falei, aflita. Ele percebeu e ficou de olhos meio arregalados.
- O que há, meu amor? Isso tudo é medo, minha princesa? Se acalme! Você está tremendo... – Ele falou, tentando me acalmar, fazendo carinho em meus braços.
- Não sei o que é, Miguel. Mas não sei se quero continuar. – Ele deu um riso alto e olhou fixamente em meus olhos.
- Amor, não precisa disso tudo. Você sabe que é normal ter medo antes de entrar no palco ou na passarela. Isso não acontece só com você! Não pode ir embora, é o seu dia, meu anjo. Quer uma água? Eu busco pra você! – Ele me deu um selinho e foi buscar a água. Fiquei parada, sem saber o que fazer.
- Lara!! Lara, querida, o que está acontecendo? Vamos, você precisa entrar agora! – Abri meus olhos e tentei argumentar contra.
- Espera! O Miguel está vindo... Espe.. Fernan...  – Ela não me deixou nem terminar e foi me empurrando para trás da coxia.
Só deu tempo de eu respirar e eu já estava na passarela. Fingi que não havia acontecido nada e sorri, um sorriso falso, mas ninguém precisava saber disso. Fingi o máximo que pude, e acho que deu certo. Pois todos estavam sorrindo e batendo palmas! E quando cheguei ao meio da passarela, já estava sorrindo normalmente e conseguindo me concentrar somente no que eu fazia.
Sorrisos, flashes, sorrisos e mais flashes. Eu realmente gostava dessa vida que eu levava! Não há nada melhor que ganhar por algo que se dá prazer em fazer!
E então, quando cheguei ao fim da passarela e estava pronta para me virar e voltar desfilando para coxia, ouvimos barulhos altos. E gente gritando na coxia. Depois ouvimos barulhos de tiros e todos começaram a gritar e a correr. Eu, de salto alto, num vestido imenso e com cores reluzentes, não sabia o que fazer. Tirei o salto, levantei o vestido e saí correndo para a coxia. Só consegui pensar em Miguel, que esperava minha volta lá dentro.
Comecei a gritar desesperada – Miguel! Migueeeel! Miguel! – Meu Deus, o que havia acontecido? Cheguei lá dentro e todos haviam sumido. Não restava ninguém. Comecei a correr e entrar em cada sala às pressas procurando Miguel, ele devia estar escondido em uma delas. E quando cheguei correndo no meu camarim eu parei e fiquei mais calma. Lá estava ele, sentado em uma cadeira, de costas para mim. Achei estranho, pois estava quieto demais. Mas não pensei muito, só deu tempo de eu virar a cadeira pra mim. E quando virei, ele caiu com tudo no chão. Dei um grito de susto. Fiquei apavorada, me agachei e chamei pelo seu nome. – Miguel, acorde! Miguel? Miguel, meu amor, me ouça! Miguel!! – Ele estava ensangüentado. Quem havia feito aquilo com meu Miguel? Ele era um amor de pessoa...Não tinha o por quê disso. Não consegui pensar em nada. Eu chorava, aos prantos. E então fui buscar ajuda. No caminho, fui cortando meu vestido e quando cheguei lá fora ele já estava ao meio. Havia muitas pessoas e algumas ambulâncias. Gritei ao máximo tentando avisar que havia um ferido lá dentro.
- Lá dentro!! Um ferido!! Socorrrrro!! – Eles correram com uma maca e quando chegaram no camarim, aonde se encontrava Miguel, o puseram na maca bem devagar e o levaram para fora do Estúdio. Chegando lá, pararam com a maca em frente à ambulância. O doutor falava com outros enfermeiros(ou doutores, sei lá) baixo, de forma que não conseguia ouvir. O que eles tinham em mente? Eram loucos? Meu Miguel estava desmaiado e eles não faziam nada??
- Ei! Estão esperando pelo quê? Pela morte de mais alguém? Pelo amor de Deus! Levem-no logo para um hospital!! – Eu estava nervosa demais para pensar em como tratar um médico no momento. – Porque estão me olhando assim? Vamos logo!! Levem o Miguel. Já!! – Nisso começaram a aparecer vários entrevistadores e pessoas da TV, querendo saber o que havia acontecido.
- Senhorita, seu namorado perdeu muito sangue...
- O que há com vocês? Leve-o logo daqui! Podemos arranjar doadores de sangue rapidamente! Vamos! – Estava pirando com aqueles médicos. Qual problema deles?
- Senhorita...Compreenda... Temos muitos pacientes em estado grave, precisando de lugar no hospital. E será uma.. – Pausa – É...
- Uma o quê?? Pelo amor de Deus, Miguel está morrendo, doutor. Morrendo! – Caí em lágrimas, estava fraca.
- Senhorita.. Sinto muito... mas ele não tem chances... perdeu muito sangue! A pessoa que fez isso estava intencionada, pois atirou perfurando os lugares de mais saída de sangue. No caso, os lugares mais importantes para ele sobreviver. Sinto muito, muito mesmo... Mas não há como insistir nesse caso... – Ele falava e a cada palavra que eu ouvia meu coração se quebrava mais. Lágrimas jorravam de meus olhos. E eu não sabia nem ao menos o que fazer... Pulei em seu pescoço, mas acabei caindo no chão, estava fraca demais para me sustentar em pé. Eles tentaram me carregar pra dentro da ambulância, mas não deixei. Disse que ficaria ali, eu e Miguel, eu sabia que ele iria acordar logo depois.
- Ele vai acordar – Eu sorria com lágrimas nos olhos. – Ele só precisa ficar aqui comigo, daqui a pouco ele acorda e fica tudo bem novamente. – Eu sorria, ria, e fingia pra mim mesma.
- Senhorita...não pense assim, por favor! Será pior pra você...
- O que há com você? – Eu ria – Miguel é forte, vai acordar logo... Só precisa de um tempo comigo – Eu ria alto, sorria, lágrimas caiam... – Miguel, meu Miguel... – E o riso, sorriso e a euforia acabou de uma hora para outra. Caí sentada no chão, chorava desesperada, soluçava. Ventos batiam em meus cabelos, deixando-os mais cheios. – Ele não acordará, não é? – Eu perguntava, repetidamente ao doutor. Levantei e puxei a gola da camisa que pouco aparecia por dentro daquele jaleco branco, agora meio vermelho pelo sangue. – Eu preciso, necessito do Miguel para sobreviver, doutor! – Me joguei novamente ao chão, fiquei lá, chorando.
- Senhorita, vamos para o hospital... Você não está nada bem...Vamos, por favor.. Eu insisto que vá!
- NÃO! Sai daqui, seu médico inútil! – Eu chorava, olhava para seus olhos, estavam pra baixo, ele não gostava daquilo tanto quanto eu. Mas no momento, nada vinha a minha cabeça, a não ser Miguel.
- Deixe doutor, eu levo ela para casa! – Disse uma voz conhecida. Olhei pra cima e bufei.
- Sai daqui, você também! Não preciso de você. Não viu o que sua idéia de desfile deu? – Me levantei, Fernanda ficou em silêncio só consegui ouvi-la falar “Deixe-a! Está muito magoada ainda. Não será fácil.” Continuei andando, cambaleando. Estava completamente desgrenhada. Meu vestido rasgado ao meio, descalça, maquiagem toda borrada e horrível; essa era eu. Essa era Lara Gonne, - lê-se “Goane” -. Quem diria que a tão famosa modelo e atriz Lara G., um dia estaria assim em meio a rua, exposta a qualquer câmera ou tipo de coisa nesse estado?
Eu andava, sem rumo, sem direção. Eu só queria chorar em paz. Eu só precisava de um lugar que não houvesse ninguém. Eu só precisava de Miguel ao meu lado! – Miguel, porque fez isso comigo? Porque se foi e não me levou junto?? Miguel... – Não havia mais forças pra repetir seu nome. Fiquei em silêncio, a única coisa que se ouvia era meus soluços, eu chorava desesperadamente. Cheguei em uma rua deserta, me sentei na beira da calçada e fiquei ali.

[...] Fim do primeiro capítulo,
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